quarta-feira, 16 de março de 2016

A consulta

           Entro no consultório e não digo nada. Aguardo o doutor me chamar:
           - Gisele Almeida!
          Opa, sou eu! Entro na sala e vou direto para o divã. O doutor senta-se ao meu lado, porém, de forma que não consigo olhar diretamente para ele. Logo ele pede para que eu comece a falar. OK, falo:
           - Doutor, tenho um sério problema!
           - Que tipo de problema?
           - Um grave problema!
           - Então, fale sobre esse problema! - disse ele, já impaciente. Era óbvio que eu estava ali porque tinha algum problema.
           - Eu tenho o hábito de problematizar tudo. Problematizo coisas simples, complexas, habituais... Tudo!
           - Por favor, Srta. Gisele, seja mais específica.
           - Doutor, eu fico estressada com facilidade, não tolero certos tipos de pessoas, me sinto culpada pelo erro dos outros e recentemente constatei que sou assim porque problematizo tudo.
            E a conversa foi se desenvolvendo, e o doutor ficou ali, só ouvindo e anotando, enquanto eu, refletia em voz alta. Sim, eu tinha um problema. Eu problematizava. E não era pouca coisa. Era tudo. Não tolerava temas polêmicos, eram graves demais. Não elogiava as pessoas porque iriam se achar demais. Sempre achava que havia de errado comigo e queria respostas. Queria saber a raiz de problemas que não existiam. Não concordava com ninguém pra não acharem que não tinha opinião própria. Insistia com processos, eram importantes para a ordem do mundo. Insistia em ter que mudar as coisas, porque não estavam certas. Ah, e na vida amorosa? Era um horror, ninguém era digno de mim, e quando era, eu problematizada e perdia o candidato. Eu nunca me achava boa o bastante para o outro. E quando algo me incomodava, e sabia o que era , via defeitos em tudo, criticava tudo. Ia sempre para o lado oposto, eu apenas problematizava.
           Após longos minutos explanando minhas reflexões, perguntei:
           -  O que você acha doutor?
           E ele , com a certeza de profissional que era e toda a instrução que lhe cabia no momento, respondeu com convicção:
           - Bem, acho que você está apenas problematizando.
           Levantei-me sem dizer nada, peguei minhas coisas e sai aliviada. Estava apenas problematizando novamente.

sexta-feira, 4 de março de 2016

Se ninguém se importa, seja feliz

            Acredito que a vida seja exatamente como falam ou lemos por ai nas diversas redes sociais. Por mais que você esteja sofrendo por dentro, deve-se sorrir e dizer que está tudo bem. Há quem diga, que devemos fazer isso porque as pessoas não se importam em saber o que acontece com você. E é isso mesmo, porém, vejo isso de forma otimista. Se as pessoas não se importam com você, agradeça, pois isso não é ruim. Isso significa que você tem liberdade. Sim, sinta-se feliz por isso, sinta-se livre. 

            Você deve achar que estou louca ou gosto da solidão. Mas pense, ao sorrir quando se está triste, implica independência e liberdade, pois se você se entrega ao sentimento, largando o sorriso e desabando de vez, querendo desabafar, você perde o direito sobre você. Pois qualquer atitude sua mais feliz, será mal vista, mal colocada, vista com hipocrisia. Portanto, o ideal é ser sempre alto astral, feliz, divertido e bem humorado. Não deixe que ninguém saiba dos seus problemas, eles são seus e devem ser secretos.

             E o que fazer para guardar essas angústias, tristezas e decepções? Bem,  conte tudo para o travesseiro antes de dormir, ninguém melhor do que você, para entender o que está sentindo. Entenda que, ninguém quer pessoas tristes por perto, entretanto,  elas tendem a se apegar as pessoas tristes e dependentes emocionalmente, é como se, despertasse um instinto de proteção, quase que maternal. Ninguém precisa cuidar de quem está sempre alegre, pois, essa independência assusta, simplesmente porque quem é feliz não precisa de ninguém e sempre estará bem. Por fim, quando alguém te entristecer ou magoar, fuja da carência e responda: Está tudo bem. Busque sua liberdade, porque quem é feliz é livre. Livre para ser feliz.